jueves, 14 de marzo de 2013

Iniciación Tantrica - Parte 2



jñānena kriyayā vāpi guru śiṣyaṃ parīkṣayet |
saṃvatsaraṃ tadarddhaṃ vā tadarddhaṃ vā prayatnataḥ || 19 ||
No conhecimento e na ação o Guru deverá testar o discípulo pelo período de um ano, ou metade de um ano ou um quarto de ano.


uttamāṃścādhame kuryānnīcānuttamakarmaṇi |
prāṇadravyapraṇāmādyairādeśaiśca svayaṃ samaiḥ || 20 ||
Trazendo o que está acima para baixo, o que está abaixo para cima, em assuntos relativos à poder, dinheiro, reverência, obediência e outros.


tatkarmasūcakairvākyairmāyābhiḥ krūraceṣṭitaiḥ |
pakṣapātairudāsīnairanekaiśca muhurmuhuḥ || 21 ||
ākṛṣṭastāḍito vāpi yo viṣādaṃ na yāti ca |
guruḥ kṛpāṃ karotīti mudā sañcintayet sadā || 22 ||
O discípulo não deve se magoar devido à estes atos aparentemente cruéis, às palavras associadas à estes, às frequentes parcialidades, às muitas e repetidas indiferenças. Mesmo que seja puxado ou castigado, sempre encarar tudo como a compaixão do Guru.


śrīguroḥ smaraṇe cāpi kīrttanaṃ darśane'pi ca |
vandane paricaryāyāmāhvāne preṣaṇe priye || 23 ||
ānandakamparomāñcasvaranetrādivikriyāḥ |
yeṣāṃ syuste'tra yogyāśca dīkṣāsaṃskārakarmaṇi || 24 ||
Aqueles que se arrepiam em regozijo, tremem, mudam de voz e de olhar à simples lembrança do Guru, em suas homenagens, em suas audiências, ao prestar reverências à ele, em seu serviço, ao ser chamado ou em sua despedida – estes estão aptos à ser privilegiados para a purificação de iniciação.


śiṣyo'pi lakṣaṇairetaiḥ kuryād guruparīkṣaṇam |
ānandādyairjapastotradhyānahomārcanādiṣu || 25 ||
jñānopadeśasāmarthyaṃ mantrasiddhimapīśvari |
vedhakatvaṃ parijñāya śiṣyo bhūyānna cānyathā || 26 ||
O discípulo deveria se tornar um Shishya somente após reconhecer o Guru através de sua habilidade no Japa, nos Stotras, Dhyanas, Homa, Puja e nos demais. Após conhecer sua capacidade para a transmissão do conhecimento, perfeição na ciência dos Mantras e habilidade para causar um impacto sutil, o interessado tornar-se-ia um discípulo e não de outra forma.

Comentário: Japa é a recitação de Mantras, Stotras são hinos ritualísticos recitados em circunstancias especificas, Dhyana é a visualização adequada à cada Deidade, Homas são cerimonias de fogo e Pujas são ritos de adoração. O Guru deve ser extremamente hábil em todos estes.
A capacidade de causar um impacto sutil é um tanto subjetiva, entretanto todos aqueles que já presenciaram uma Puja completa ou outros ritos afirmam que “algo diferente” acontece ali, este “algo diferente” é a presença de Shakti, energia espiritual.


ādimadhyāvasāneṣu yogyāḥ śaktinipātitāḥ |
adhamā madhyamāḥ śreṣṭhāḥ śiṣyā devi prakīttītāḥ || 27 ||
Existem aqueles que são competentes no início, aqueles que são competentes no meio e aqueles que são competentes ao final, devido á transmissão da Shakti do Guru. Estes discípulos são respectivamente considerados Adhama (os mais baixos), Madhyama (os medianos) e Shreshtha (os melhores).


ādau bhaktirbhaveddevi dīkṣārthaṃ samudanti ye |
punavīpulahṛṣṭāste ādiyogyā itīritāḥ || 28 ||
Aqueles em que existe devoção no inicio, quando eles vêm para a iniciação, porém cujo entusiasmo esfria-se em breve, são considerados competentes no inicio.


dīkṣāsamayasamprāptā jñānavijñānavajītāḥ |
bhaktyā pradhvastaparyāyā madhyayogyāśca te smṛtāḥ || 29 ||
Aqueles que chegam quando é o momento dos ritos de iniciação e que não possuem conhecimento ou característica especial são considerados competentes no meio.


ādau bhaktivihīnā ye madhyabhaktāstu ye narāḥ |
antapravṛddhabhaktāśca antayogyā bhavanti te |
uttamajñānasaṃjñāścetyupadeśastridhā priye || 30 ||
Aqueles que não tem devoção no começo, que se tornam devotos no meio e cuja devoção se torna plenamente amadurecida ao final são os Shishyas considerados competentes ao final e são conhecidos como os melhores Jñanis. Ó Querida  ! A instrução (Upadesha) pode ser de três tipos: de Karma, de Dharma e de Jñana.

Comentário: Um Jñani é aquele que segue prioritariamente o caminho do conhecimento e se diferencia dos Bhaktas que priorizam a devoção e dos Karmis que priorizam a ação.


yathā pipīlikā mandamandaṃ vṛkṣāgragaṃ phalam |
cireṇāpnoti karmopadeśaścāpi tathā smṛtaḥ || 31 ||
Destas, a instrução de Karma é aquela que caminha lentamente tal qual a formiga que leva muito tempo para alcançar o fruto no alto da árvore, seguindo bem devagar.


yathā kapiśca śākhāyāṃ śākhāmullaṃghya yatnataḥ |
phalaṃ prāpnoti dharmasya copadeśastathā priye || 32 ||
Ó minha Querida ! A (instrução) de Dharma é tal qual o movimento do macaco que se esforça pulando de galho em galho e atinge o fruto.


yathā viyadgamaḥ śīghraṃ phala eva niṣīdati |
tathā jñānopadeśaśca kathitaḥ kulanāyike || 33 ||
Ó KulaNayika ! A instrução em Jñana é tal qual o (movimento) do pássaro que voa direto e descansa sobre o fruto rapidamente.

Iniciação Tantrica - Parte 2



jñānena kriyayā vāpi guru śiṣyaṃ parīkṣayet |
saṃvatsaraṃ tadarddhaṃ vā tadarddhaṃ vā prayatnataḥ || 19 ||
No conhecimento e na ação o Guru deverá testar o discípulo pelo período de um ano, ou metade de um ano ou um quarto de ano.


uttamāṃścādhame kuryānnīcānuttamakarmaṇi |
prāṇadravyapraṇāmādyairādeśaiśca svayaṃ samaiḥ || 20 ||
Trazendo o que está acima para baixo, o que está abaixo para cima, em assuntos relativos à poder, dinheiro, reverência, obediência e outros.


tatkarmasūcakairvākyairmāyābhiḥ krūraceṣṭitaiḥ |
pakṣapātairudāsīnairanekaiśca muhurmuhuḥ || 21 ||
ākṛṣṭastāḍito vāpi yo viṣādaṃ na yāti ca |
guruḥ kṛpāṃ karotīti mudā sañcintayet sadā || 22 ||
O discípulo não deve se magoar devido à estes atos aparentemente cruéis, às palavras associadas à estes, às frequentes parcialidades, às muitas e repetidas indiferenças. Mesmo que seja puxado ou castigado, sempre encarar tudo como a compaixão do Guru.


śrīguroḥ smaraṇe cāpi kīrttanaṃ darśane'pi ca |
vandane paricaryāyāmāhvāne preṣaṇe priye || 23 ||
ānandakamparomāñcasvaranetrādivikriyāḥ |
yeṣāṃ syuste'tra yogyāśca dīkṣāsaṃskārakarmaṇi || 24 ||
Aqueles que se arrepiam em regozijo, tremem, mudam de voz e de olhar à simples lembrança do Guru, em suas homenagens, em suas audiências, ao prestar reverências à ele, em seu serviço, ao ser chamado ou em sua despedida – estes estão aptos à ser privilegiados para a purificação de iniciação.


śiṣyo'pi lakṣaṇairetaiḥ kuryād guruparīkṣaṇam |
ānandādyairjapastotradhyānahomārcanādiṣu || 25 ||
jñānopadeśasāmarthyaṃ mantrasiddhimapīśvari |
vedhakatvaṃ parijñāya śiṣyo bhūyānna cānyathā || 26 ||
O discípulo deveria se tornar um Shishya somente após reconhecer o Guru através de sua habilidade no Japa, nos Stotras, Dhyanas, Homa, Puja e nos demais. Após conhecer sua capacidade para a transmissão do conhecimento, perfeição na ciência dos Mantras e habilidade para causar um impacto sutil, o interessado tornar-se-ia um discípulo e não de outra forma.

Comentário: Japa é a recitação de Mantras, Stotras são hinos ritualísticos recitados em circunstancias especificas, Dhyana é a visualização adequada à cada Deidade, Homas são cerimonias de fogo e Pujas são ritos de adoração. O Guru deve ser extremamente hábil em todos estes.
A capacidade de causar um impacto sutil é um tanto subjetiva, entretanto todos aqueles que já presenciaram uma Puja completa ou outros ritos afirmam que “algo diferente” acontece ali, este “algo diferente” é a presença de Shakti, energia espiritual.


ādimadhyāvasāneṣu yogyāḥ śaktinipātitāḥ |
adhamā madhyamāḥ śreṣṭhāḥ śiṣyā devi prakīttītāḥ || 27 ||
Existem aqueles que são competentes no início, aqueles que são competentes no meio e aqueles que são competentes ao final, devido á transmissão da Shakti do Guru. Estes discípulos são respectivamente considerados Adhama (os mais baixos), Madhyama (os medianos) e Shreshtha (os melhores).


ādau bhaktirbhaveddevi dīkṣārthaṃ samudanti ye |
punavīpulahṛṣṭāste ādiyogyā itīritāḥ || 28 ||
Aqueles em que existe devoção no inicio, quando eles vêm para a iniciação, porém cujo entusiasmo esfria-se em breve, são considerados competentes no inicio.


dīkṣāsamayasamprāptā jñānavijñānavajītāḥ |
bhaktyā pradhvastaparyāyā madhyayogyāśca te smṛtāḥ || 29 ||
Aqueles que chegam quando é o momento dos ritos de iniciação e que não possuem conhecimento ou característica especial são considerados competentes no meio.


ādau bhaktivihīnā ye madhyabhaktāstu ye narāḥ |
antapravṛddhabhaktāśca antayogyā bhavanti te |
uttamajñānasaṃjñāścetyupadeśastridhā priye || 30 ||
Aqueles que não tem devoção no começo, que se tornam devotos no meio e cuja devoção se torna plenamente amadurecida ao final são os Shishyas considerados competentes ao final e são conhecidos como os melhores Jñanis. Ó Querida  ! A instrução (Upadesha) pode ser de três tipos: de Karma, de Dharma e de Jñana.

Comentário: Um Jñani é aquele que segue prioritariamente o caminho do conhecimento e se diferencia dos Bhaktas que priorizam a devoção e dos Karmis que priorizam a ação.


yathā pipīlikā mandamandaṃ vṛkṣāgragaṃ phalam |
cireṇāpnoti karmopadeśaścāpi tathā smṛtaḥ || 31 ||
Destas, a instrução de Karma é aquela que caminha lentamente tal qual a formiga que leva muito tempo para alcançar o fruto no alto da árvore, seguindo bem devagar.


yathā kapiśca śākhāyāṃ śākhāmullaṃghya yatnataḥ |
phalaṃ prāpnoti dharmasya copadeśastathā priye || 32 ||
Ó minha Querida ! A (instrução) de Dharma é tal qual o movimento do macaco que se esforça pulando de galho em galho e atinge o fruto.


yathā viyadgamaḥ śīghraṃ phala eva niṣīdati |
tathā jñānopadeśaśca kathitaḥ kulanāyike || 33 ||
Ó KulaNayika ! A instrução em Jñana é tal qual o (movimento) do pássaro que voa direto e descansa sobre o fruto rapidamente.

miércoles, 13 de marzo de 2013

Iniciação Tantrica - Parte 1




Existe um grande interesse nos assuntos relacionados à iniciação Tantrica e, por falta de conhecimento adequado, alguns mitos são criados. Uma maneira de ajudar á todos os interessados é divulgar o que as escrituras Tantricas têm à dizer sobre o tema. Segue-se abaixo a parte 1 da tradução verso por verso do Kularvana Tantra capitulo XIV que vai do verso 1 até o 18.

Estas linhas gerais esclarecem os procedimentos que seguimos em nosso Kula, em nossa família spiritual. Aqui as iniciações (Diksha) e as transmissões (Upadesha) não são cobradas, conforme aprendemos com nosso Guru. Os ritos são realizados conforme a instrução oral recebida e as indicações dos Tantras.

Que Mãe Kali nos abençoe


śrī devyuvāca
kuleśa śrotumicchāmi parīkṣāṃ guruśiṣyayoḥ |
upadeśakramaṃ dīkṣābhedāṃśca vada me prabho || 1 ||
A Deusa disse: “Ó Kulesha ! Eu quero ouvir sobre os testes entre Guru e Shishya. Ó meu Senhor ! Diga-me também a sequência de instrução e os tipos de iniciação.”


īśvara uvāca
śṛṇu devi pravakṣyāmi yanmāṃ tvaṃ paripṛcchasi |
tasya śravaṇamātreṇa cittaśuddhiḥ prajāyate || 2 ||
Ishvara disse: “Ouça Ó Deusa ! Lhe digo o que Tu me perguntaste. Apenas ao ouvir isto já purifica a mente.“


vinā dīkṣāṃ na mokṣaḥ syāttaduktaṃ śivaśāsane |
sā ca na syādvinācāryamityācāryaparamparā || 3 ||
Foi determinado pelo Senhor Shiva que não há Liberação sem iniciação e essa iniciação não pode acontecer sem um Acharya tradicional.

Comentário: Um Acharya é aquele que segue plenamente o Dharma e, portanto, teria a primeira qualificação para poder eventualmente ensiná-lo.


tasmāt siddhāntaṃ samprāpya sampradāyādihetubhiḥ |
antareṇopadeṣṭāraṃ mantrāḥ syunīṣphalā yataḥ || 4 ||
Portanto, após conhecer os conceitos relacionados à tradição, deve-se assegurar de ter um Guru capaz de transmitir as instruções internas. De outra forma os Mantras se tornam infrutíferos.


devāstameva śaṃsanti pāramparyapravarttakam |
guruṃ mantrāgamābhijñaṃ samayācārapālakam || 5 ||
As Deidades oferecem proteção somente àqueles Gurus que promovem a tradição, que conhecem os Mantras, os Agamas e que protegem os ritos convencionais.

Comentário: A palavra Samaya significa acordo, convenção, moderação. Nos Tantras se refere à iniciação que é dada através de rituais.


guruḥ śiṣyādhikārārthaṃ virakto'pi śivājñayā |
kiñcitkālaṃ vidhāyetthaṃ svaśiṣyāya samarpayet || 6 ||
Apesar de (inicialmente) desapegado do Guru, após refletir sobre as disciplinas de um Shishya, deve-se aceitar a autoridade (do Guru), sob o comando do Senhor Shiva.


tasyāpītādhikārasya yogaḥ sākṣāt pare śive |
dehānte śāśvatī muktiriti śaṅkarabhāṣitam || 7 ||
Pois aquele que está investido desta autoridade, verdadeiramente está em união com ParaShiva e, ao final de sua vida terrena há a Liberação eterna – assim foi declarado por Shiva Shankara.


tasmāt sarvaprayatnena sākṣātparaśivoditam |
sampradāyamavicchinnaṃ sadā kuryāt guruḥ priye || 8 ||
Portanto, Ó minha Querida ! Deve-se buscar, com todos os esforços, um Guru de tradição ininterrupta que tenha sido estabelecida pelo próprio ParaShiva.


śaktisiddhisusiddhyarthaṃ parīkṣya vidhivad guruḥ |
paścādupadiśenmantramanyathā niṣphalaṃ bhavet || 9 ||
Depois de testar adequadamente o discípulo na maneira prescrita para que haja a transmissão de Shakti e um sucesso auspicioso, o Guru deve comunicar o Mantra. De outra forma é infrutífero.

Comentário: Shakti é força espiritual.


anyāyena tu yo dadyād gṛhṇātyanyāyataśca yaḥ |
dadatā gṛhṇatā devi kulaśāpo bhaviṣyati || 10 ||
Ó Devi, se (o Mantra) for transmitido de forma contrária à este requisito ou se alguém o recebe de forma contrária, tanto aquele que o transmitiu quanto aquele que o recebeu estarão caídos.


guruśiṣyāvubhau mohādaparīkṣya parasparam |
upadeśaṃ dadad gṛhṇan prāpnuyātāṃ piśācatām || 11 ||
Se, movidos pela ilusão, o Guru e o discípulo transmitem e recebem a instrução sem mutuamente testar um ao outro, então ambos tornam-se Pishachas.

Comentário: Um Pishacha é um espirito que aprecia carne e desordem.


aśāstrīyopadeśañca yo gṛhṇāti dadāti hi |
bhuñjāte tāvubhau ghorānnarakānekaviṃśatim || 12 ||
Se a instrução for contrária às escrituras tanto aquele que transmite quanto aquele que recebe terão de viver por muitos anos em terrível tribulação.


asaṃskṛtopadeśañca yaḥ karoti sa pātakī |
 vinaśyati ca tanmantraṃ saikate śālibījavat || 13 ||
Aquele que transmite uma instrução que não é bem elaborada está em grande demérito. O seu Mantra se perde tal qual as sementes que são lançadas na areia.


anarhe mantravijñānaṃ na tiṣṭhati kadācana |
tasmāt parīkṣya karttavyamanyathā niṣphalaṃ bhavet || 14 ||
O conhecimento do Mantra nunca se sustenta naqueles que não são merecedores, é por isso que só se deve proceder após os devidos testes, de outra forma (tudo) é infrutífero.


kṛtvā samayadīkṣāñca dattvā samayapādukām |
sannidhāyātmanaḥ śiṣyaṃ vadenmantraṃ na cānyathā || 15 ||
Após iniciar (o discípulo) com os rituais e dar-lhe o Pāduka, instruindo o discípulo para sentar-se próximo, o Guru então transmite o Mantra, e não de outra forma.

Comentário: A palavra Pāduka significa literalmente sandálias, aqui ela se refere ao abrigo espiritual que o Guru se compromete à garantir à seu discípulo antes de transmitir-lhe o Mantra.


sacchiṣyāyātibhaktāya yajjñānamupadiśyate |
tajjñānaṃ tattuśāstrārthaṃ tadvidadhyādakhaṇḍitam || 16 ||
O conhecimento que é transmitido ao bom discípulo, de excelente devoção, deve estar de acordo com as escrituras e ser comunicado na sua integra.


asacchiṣyeṣvabhakteṣu yajjñānamupadiśyate |
tat prayātyapavitratvaṃ gokṣīraṃ śvaghṛtādiva || 17 ||
Qualquer conhecimento que é transmitido aos discípulos maus e sem devoção se torna impuro tal qual o leite de vaca ao ser misturado com ghee feito de leite de cadela.

Comentário: O ghee é uma manteiga clarificada preparada de forma especial, o que garante sua conservação e a permanência de suas qualidades nutritivas por muito tempo.


dhanecchābhayalobhādyairayogyaṃ yadi dīkṣayet |
devatāśāpamāpnoti kṛtañca niṣphalaṃ bhavet || 18 ||
A iniciação que é dada àquele que é incapaz, seja por motivo de dinheiro ou de outros ganhos, ou seja por medo ou ambição, se torna infrutífera e aquele que a deu recebe a maldição da Deidade.

Iniciación Tántrica - Parte 1





Existe um grande interesse nos assuntos relacionados à iniciação Tantrica e, por falta de conhecimento adequado, alguns mitos são criados. Uma maneira de ajudar á todos os interessados é divulgar o que as escrituras Tantricas têm à dizer sobre o tema. Segue-se abaixo a parte 1 da tradução verso por verso do Kularvana Tantra capitulo XIV que vai do verso 1 até o 18.

Estas linhas gerais esclarecem os procedimentos que seguimos em nosso Kula, em nossa família spiritual. Aqui as iniciações (Diksha) e as transmissões (Upadesha) não são cobradas, conforme aprendemos com nosso Guru. Os ritos são realizados conforme a instrução oral recebida e as indicações dos Tantras.

Que Mãe Kali nos abençoe


śrī devyuvāca
kuleśa śrotumicchāmi parīkṣāṃ guruśiṣyayoḥ |
upadeśakramaṃ dīkṣābhedāṃśca vada me prabho || 1 ||
A Deusa disse: “Ó Kulesha ! Eu quero ouvir sobre os testes entre Guru e Shishya. Ó meu Senhor ! Diga-me também a sequência de instrução e os tipos de iniciação.”


īśvara uvāca
śṛṇu devi pravakṣyāmi yanmāṃ tvaṃ paripṛcchasi |
tasya śravaṇamātreṇa cittaśuddhiḥ prajāyate || 2 ||
Ishvara disse: “Ouça Ó Deusa ! Lhe digo o que Tu me perguntaste. Apenas ao ouvir isto já purifica a mente.“


vinā dīkṣāṃ na mokṣaḥ syāttaduktaṃ śivaśāsane |
sā ca na syādvinācāryamityācāryaparamparā || 3 ||
Foi determinado pelo Senhor Shiva que não há Liberação sem iniciação e essa iniciação não pode acontecer sem um Acharya tradicional.

Comentário: Um Acharya é aquele que segue plenamente o Dharma e, portanto, teria a primeira qualificação para poder eventualmente ensiná-lo.


tasmāt siddhāntaṃ samprāpya sampradāyādihetubhiḥ |
antareṇopadeṣṭāraṃ mantrāḥ syunīṣphalā yataḥ || 4 ||
Portanto, após conhecer os conceitos relacionados à tradição, deve-se assegurar de ter um Guru capaz de transmitir as instruções internas. De outra forma os Mantras se tornam infrutíferos.


devāstameva śaṃsanti pāramparyapravarttakam |
guruṃ mantrāgamābhijñaṃ samayācārapālakam || 5 ||
As Deidades oferecem proteção somente àqueles Gurus que promovem a tradição, que conhecem os Mantras, os Agamas e que protegem os ritos convencionais.

Comentário: A palavra Samaya significa acordo, convenção, moderação. Nos Tantras se refere à iniciação que é dada através de rituais.


guruḥ śiṣyādhikārārthaṃ virakto'pi śivājñayā |
kiñcitkālaṃ vidhāyetthaṃ svaśiṣyāya samarpayet || 6 ||
Apesar de (inicialmente) desapegado do Guru, após refletir sobre as disciplinas de um Shishya, deve-se aceitar a autoridade (do Guru), sob o comando do Senhor Shiva.


tasyāpītādhikārasya yogaḥ sākṣāt pare śive |
dehānte śāśvatī muktiriti śaṅkarabhāṣitam || 7 ||
Pois aquele que está investido desta autoridade, verdadeiramente está em união com ParaShiva e, ao final de sua vida terrena há a Liberação eterna – assim foi declarado por Shiva Shankara.


tasmāt sarvaprayatnena sākṣātparaśivoditam |
sampradāyamavicchinnaṃ sadā kuryāt guruḥ priye || 8 ||
Portanto, Ó minha Querida ! Deve-se buscar um Guru de tradição ininterrupta, que se inicie com o próprio ParaShiva com todos os esforços.


śaktisiddhisusiddhyarthaṃ parīkṣya vidhivad guruḥ |
paścādupadiśenmantramanyathā niṣphalaṃ bhavet || 9 ||
Depois de testar adequadamente o discípulo na maneira prescrita para que haja a transmissão de Shakti e um sucesso auspicioso, o Guru deve comunicar o Mantra. De outra forma é infrutífero.

Comentário: Shakti é força espiritual.


anyāyena tu yo dadyād gṛhṇātyanyāyataśca yaḥ |
dadatā gṛhṇatā devi kulaśāpo bhaviṣyati || 10 ||
Ó Devi, se (o Mantra) for transmitido de forma contrária à este requisito ou se alguém o recebe de forma contrária, tanto aquele que o transmitiu quanto aquele que o recebeu estarão caídos.


guruśiṣyāvubhau mohādaparīkṣya parasparam |
upadeśaṃ dadad gṛhṇan prāpnuyātāṃ piśācatām || 11 ||
Se, movidos pela ilusão, o Guru e o discípulo transmitem e recebem a instrução sem mutuamente testar um ao outro, então ambos tornam-se Pishachas.

Comentário: Um Pishacha é um espirito que aprecia carne e desordem.


aśāstrīyopadeśañca yo gṛhṇāti dadāti hi |
bhuñjāte tāvubhau ghorānnarakānekaviṃśatim || 12 ||
Se a instrução for contrária às escrituras tanto aquele que transmite quanto aquele que recebe terão de viver por muitos anos em terrível tribulação.


asaṃskṛtopadeśañca yaḥ karoti sa pātakī |
 vinaśyati ca tanmantraṃ saikate śālibījavat || 13 ||
Aquele que transmite uma instrução que não é bem elaborada está em grande demérito. O seu Mantra se perde tal qual as sementes que são lançadas na areia.


anarhe mantravijñānaṃ na tiṣṭhati kadācana |
tasmāt parīkṣya karttavyamanyathā niṣphalaṃ bhavet || 14 ||
O conhecimento do Mantra nunca se sustenta naqueles que não são merecedores, é por isso que só se deve proceder após os devidos testes, de outra forma (tudo) é infrutífero.


kṛtvā samayadīkṣāñca dattvā samayapādukām |
sannidhāyātmanaḥ śiṣyaṃ vadenmantraṃ na cānyathā || 15 ||
Após iniciar (o discípulo) com os rituais e dar-lhe o Pāduka, instruindo o discípulo para sentar-se próximo, o Guru então transmite o Mantra, e não de outra forma.

Comentário: A palavra Pāduka significa literalmente sandálias, aqui ela se refere ao abrigo espiritual que o Guru se compromete à garantir à seu discípulo antes de transmitir-lhe o Mantra.


sacchiṣyāyātibhaktāya yajjñānamupadiśyate |
tajjñānaṃ tattuśāstrārthaṃ tadvidadhyādakhaṇḍitam || 16 ||
O conhecimento que é transmitido ao bom discípulo, de excelente devoção, deve estar de acordo com as escrituras e ser comunicado na sua integra.


asacchiṣyeṣvabhakteṣu yajjñānamupadiśyate |
tat prayātyapavitratvaṃ gokṣīraṃ śvaghṛtādiva || 17 ||
Qualquer conhecimento que é transmitido aos discípulos maus e sem devoção se torna impuro tal qual o leite de vaca ao ser misturado com ghee feito de leite de cadela.

Comentário: O ghee é uma manteiga clarificada preparada de forma especial, o que garante sua conservação e a permanência de suas qualidades nutritivas por muito tempo.


dhanecchābhayalobhādyairayogyaṃ yadi dīkṣayet |
devatāśāpamāpnoti kṛtañca niṣphalaṃ bhavet || 18 ||
A iniciação que é dada àquele que é incapaz, seja por motivo de dinheiro ou de outros ganhos, ou seja por medo ou ambição, se torna infrutífera e aquele que a deu recebe a maldição da Deidade.